A porção frontal da motocicleta é composta pelo guidão, mesas (superior e inferior), caixa de direção, bengalas e roda dianteira. A dianteira esta diretamente relacionada com a manobrabilidade do veículo. Por meio dos ângulos e comprimentos pode-se priorizar a condução do veículo em altas velocidades ou para curvas de raio pequeno.
Os três parâmetros de projeto da geometria dianteira são:
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Caster: ângulo definido pelo eixo da caixa de direção e a vertical.
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Offset: distância em Y, na mesa, do centro da caixa de direção ao centro da bengala.

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Trail: distância no solo entre o ponto de contato do pneu dianteiro com o piso e a intersecção do eixo da caixa de direção com o solo.

O Trail é dependente do ângulo de caster e do offset da mesa, e é o responsável por quantificar a estabilidade da motocicleta. Quanto maior o trail, mais estável será a condução. Comumente esta relação é feita com o caster. Ângulos maiores (mais abertos) tendem a favorecer a estabilidade, enquanto menores, a redução do raio de giro. Entretanto, relacionar estabilidade ao cáster só pode ser feita se considerarmos o offset sendo constante.
Motocicletas off-road são a categoria com menor valor de trail, visto que elas necessitam de uma grande manobrabilidade devido as curvas de raio pequeno das pistas. No outro extremo encontram-se as motocicletas estradeiras, cuja o foco são longos deslocamentos em trechos retilíneos.
Os valores normalmente encontrados nas motocicletas são:
24° a 35° para o cáster
20 mm a 45 mm para o offset
70 mm a 150 mm para o trail
Utilizando a Honda CG 160 e a Harley Davidson V-Rod, pode-se comparar o impacto que o valor do ângulo traz na condução. A motocicleta urbana necessita de agilidade para enfrentar o trânsito, por isso apresenta menor valor. O caster das motocicletas são 27,3° e 32°, respectivamente.
Ao utilizar a motocicleta, o valor do caster é modificado em função do movimento da suspensão. Durante fortes frenagens, a suspensão dianteira comprime e o ângulo diminui. O inverso ocorre em casos de acelerações. O offset da mesa permanece constante durante todo o uso. Como há variação do caster, haverá variação do trail, entretanto esta não é a única razão da mudança da medida. O ponto de contato do pneu com o solo também se altera, se deslocando a frente ou atras, a depender do obstáculo transposto.
Transposição de obstáculos
As medidas da geometria são feitas considerando um piso plano, todavia ao utilizar a motocicleta nos deparamos com obstáculos como buracos e degraus. Considerando um degrau, como a guia da calçada, o ponto de contato se deslocará a diante no pneu. Enquanto ele estiver atrás da intersecção do eixo da direção com o solo, o sistema será considerável estável. Todavia, se o ponto de contato continuar a se deslocar a diante, o sistema passará a ser instável quando o ponto de contato ultrapassar o eixo da direção. Neste momento, qualquer desalinhamento lateral entre o ponto de contato e o eixo gerará um momento auto-alinhante que fará com o guidão vire até 180°, de modo a ter o eixo a frente do ponto de contato, tornando o sistema estável novamente. Como não é possível rotacionar o guidão em 180°, o condutor deve utilizar de técnicas e/ou velocidade para transpor este obstáculo.
Veículos offroad possuem uma maior roda na dianteira, normalmente 21” contra 17” das motocicletas convencionais, pois o maior raio da roda aumenta o valor do trail para um mesmo ângulo de caster e offset da mesa.
O mesmo fenômeno ocorre ao passar sobre um buraco. Momentaneamente o ponto de contato se desloca para trás, mas ao a roda tocar no fundo do buraco, o ponto se movimenta a diante, podendo tornar o sistema instável, de modo ao guidão virar, derrubando o motociclista.