Neste final de semana acontecerá a penúltima etapa da temporada 2021 da Stock Car. O campeonato tem fama de ser o mais competitivo no país por comumente ter 28 carros separados por menos de 1 segundo durante a classificação. Isto impacta em acertar ao máximo as modificações no setup do carro conforme a pista, caso contrário a posição de largada será algumas fileiras para trás. Porém como fazer isso com um shakedown de 10 minutos no início do final de semana e apenas 2 treinos livres de 30 minutos antes da classificação? A resposta está em desenvolver um Run Plan no pré evento.
O que é o Run Plan?
O Run Plan é um planejamento das saídas que o veículo fará durante os treinos, e consequentemente do número de voltas de cada saída, assim como das modificações dos parâmetros que serão testados. O objetivo é maximizar o curto tempo disponível durante os treinos livres, além de otimizar os testes a partir de um pneu com menor desgaste. Também é considerado o tempo necessário para os mecânicos trabalharem no carro durante as paradas e para o engenheiro de dados analisar as informações e passá-las para o engenheiro de performance e para o piloto. O planejamento inclusive auxilia o trabalho do engenheiro de dados que focará os segundos inicias da análise em procurar pela validação ou não do treino.
Quando não é feito planejamento do treino, a equipe fica a mercê da decisão do momento de parada que o piloto tomará. Após a comunicação com o piloto, o engenheiro de dados irá procurar por validações dos comentários feito pelo piloto, para então passar a equipe. Apenas por descrever este procedimento não programado, podemos perceber que ele consome mais tempo do que a parada programada. Por fim, o não ter um planejamento pode acarretar uma liberação do veículo para ida à pista faltando 2 minutos para encerrar o treino, o que invalida a volta rápida para a cronometragem, embora ela possa ser útil no momento da análise dos dados.
Como montar um planejamento para o treino?
Tomando como base um carro que vire um tempo de volta médio de 1:30,000 em um treino de 30 minutos. Se dividirmos o tempo de volta médio pelo tempo total do treino, teremos que é possível, matematicamente, realizar 20 voltas no treino. Entretanto a realidade colocar alguns fatores a mais nesta conta, entre eles:
· Tempo extra da volta de saída dos boxes (out lap)
· Tempo extra da volta de entrada nos boxes (in lap)
· Tempo perdido nos boxes (pit loss)
· Tempo necessário para baixar os dados e analisá-los
· Tempo necessário para os mecânicos trabalharem no carro
Para facilitar esta ilustração, vamos considerar que o tempo extra de saída e entrada de box seja 30 segundos. E que tempo gasto no pit loss (segundos decorridos entre a linha de cronometragem de entrada de box até o box da equipe somado ao tempo percorrido do box da equipe até a linha de cronometragem de saída dos boxes) seja também de 30 segundos. O tempo que o engenheiro de dados precisará é 2 minutos e os mecânicos precisarão de 1 minutos para modificar e liberar o carro. Sendo assim cada parada nos boxes consome (0:30 + 0:30 + 0:30 + 2:00 + 1:00 = 4:30) 4 minutos e 30 segundos. Logo se planejarmos um treino com três saídas, o tempo hábil para voltas na pista será o tempo total subtraído de 2 paradas no box e do extra de uma out lap, o que resulta em 20 minutos e 30 segundos.
Considerando todos estes fatores descritos acima, o novo número de voltas do treino 20,5 divido por 1,5, o que resulta em 13,66. A fração do número de voltas indica que o fechamento do cronômetro acontecerá no meio da volta 14, pois ele já completou 13 voltas (número interio). Dividindo 14 voltas em três saídas, poderíamos organizar os treinos em 5-5-4 voltas. Porém, meu caro leitor, o motorsport não é tão simples assim. Devemos considerar que as primeiras voltas do pneu são voltas de aquecimento, e com isso o piloto não terá parâmetros a serem válidas. Dependendo da pressão e temperatura dos pneus na saída dos boxes, tipo de pneu (carcaça e composto), temperatura e abrasividade da pista o número de voltas de aquecimento pode variar. Na média são necessárias 2 voltas, porém há casos em que somente uma é suficiente, no caso de uma pista abrasiva e com temperatura próxima aos 60°C e há situações de 3 voltas quando a pista encontra-se com temperaturas próximas a 5°C. Se a categoria permite o uso de cobertores de pneus, não há necessidade de volta de aquecimento por parte dos pneus quando os cobertores estão ajustados corretamente. Retomando nossa simulação, considere ser necessário 2 voltas para que o pneu atinja a pressão e temperatura de trabalho. Neste caso é interessante tirar uma volta da segunda saída e adicionar na primeira, de modo a ficar com o seguinte arranjo: 6-4-4 voltas. Deste arranjo, desconsidere as voltas de entrada e saída do box e as de aquecimento do pneu. Com isso o número real de voltas rápidas passa a ser 2-2-3. A última saída possuí uma volta rápida a mais que as demais, pois a volta de entrada dos boxes pode ser feita após a bandeirada de encerramento do treino.
Quanto mais preciso forem as suas medições das variáveis deste problema, mais próximo será o seu planejamento do resultado real do número de voltas rápidas. Neste exemplo foi considerado que o piloto já estava alinhado na saída dos boxes quando o cronômetro abriu. Quase o piloto sai do box somente após a abertura do cronômetro, o tempo gasto no pit lane até a saída deve ser contabilizado.
Todas estas contas podem ser feitas por meio de uma planilha do excel, no qual você insere os dados de entrada e o programa calcula a saída, ou até mesmo por um papel e caneta como a foto a seguir.

E se o meu piloto não for constante?
O planejamento do treino também deve ser feito para as categorias de entrada com os pilotos amadores e gentlemen drivers, porém ele não deve ser estritamente seguido, pois pode ser que o piloto erre uma volta e necessite de mais uma volta rápida naquela saída. Nestes casos é importante que você saiba qual é o número de voltas extras que você pode adicionar a uma saída de modo que invalide a última, para assim não correr o risco de chamar o piloto aos boxes minutos antes do treino encerrar.
Agora que você aprendeu a como fazer um run plan, utilize um exemplo com o tempo de volta do seu piloto e com o cronograma da categoria dele.
Planejar é sinônimo de otimizar o treino.